Maconha


A maconha é a substância ilícita mais consumida pelas mulheres em idade gestacional. Ainda preso a discussões apaixonadas, por vezes baseadas em dogmas ou tabus, o consumo de maconha carece ainda de mais e melhores estudos, para que o tema possa receber a importância que merece. O consumo de maconha durante a gestação enfrenta o mesmo problema. Os estudos são recentes e as conclusões, incompletas. Além disso, boa parte destes é retrospectiva (baseada em informações de prontuários ou entrevistas com a gestante após o final da gestação), o que tornam imprecisas informações importantes, tais como a dose consumida, o período da gestação em que o consumo se deu, a presença de outros fatores (além da maconha) que poderiam causar danos semelhantes aos encontrados.

Alguns estudos afirmam que a maconha parece não possuir ação teratogênica, isto é, não causa malformações à constituição física do feto. Parece também, não afetar significativamente o andamento da gestação. Estudos demonstram que a maconha é capaz de aumentar a freqüência e a intensidade das contrações uterinas. Esse aumento, no entanto, parece não está associado ao trabalho de parto prematuro. O princípio ativo da maconha (delta-9-THC) mostrou-se capaz de diminuir a concentração sanguínea de hormônio luteinizante (LH) e de prolactina, sem ação sobre o hormônio folículo-estimulante (FSH), em estudos animais. Isso gerou um aumento do tempo da gestação e aumento dos índices de natimortos. A repercussão disso em seres humanos, no entanto, é desconhecida e parece não ser observada na prática clínica.

A redução de peso e tamanho ao nascer foi detectada por alguns estudos. Tal diferença, no entanto, parece desaparecer até o final do primeiro ano de vida. Nas primeiras semanas de vida, os achados são divergentes. Há aqueles que detectaram sintomas neurológicos nos primeiros dias de vida (tremores, espasmos espontâneos e dificuldades de sucção quando amamentados) e outros que não encontraram qualquer diferença, mesmo entre usuárias pesadas.
O maior problema para os recém-nascidos expostos à maconha durante a gestação refere-se aos processos cognitivos superiores (atenção, memória, raciocínio. Como a estruturação destes continua se desenvolver até a puberdade, essas alterações são detectadas tardiamente. Parece haver alterações relacionadas à estabilidade da atenção e prejuízos na aquisição de informações de natureza não-verbal. Isso parece não afetar a inteligência global. Porém, repercutem de maneira negativa sobre os processos relacionados ao planejamento e a avaliação das respostas captadas do ambiente externo. Há, ainda, relatos de impulsividade, hiperatividade e distúrbios de conduta entre esses indivíduos.
Claro que a substância não deve ser o único foco desta análise. O modo como a mãe participa do desenvolvimento da criança, as condições nutricionais do recém-nascido, o ambiente de convívio, a dose utilizada durante a gestação e o período da gestação em que tal uso se deu de maneira mais pronunciada, são alguns exemplos de fatores capazes de proteger ou comprometer o desenvolvimento infantil.. Além disso, as conseqüências do aparecimento de apresentações de maconha mais potentes também permanecem obscuras e podem representar complicações ainda desconhecidas dos cientistas.

De qualquer maneira, a maconha parece interferir de algum modo sobre o desenvolvimento do psiquismo infantil, podendo causar prejuízos em alguns casos. Para muitos profissionais e leigos, a droga não representa um grande perigo, sendo, por isso, muitas vezes tolerada ou pouco investigada. A detecção precoce do consumo (tanto por médicos, quanto por pessoas do cotidiano da gestante) e a abordagem do tema sem moralismos ("olha o que você está fazendo com seu filho!"), de uma maneira clara e objetiva, buscando acima de tudo a motivação para a mudança, é muito importante para a prevenção de complicações futuras. Evitar o que ainda é pouco conhecido, mas potencialmente danoso, é ainda o melhor tratamento.

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